Uma abordagem um pouco diferente da forma como enxergamos o papel da zona de conforto no nosso dia a dia

Existem alguns conceitos que aprendemos durante a vida e de tanto ouvi-los passam a se tornar verdades incontestáveis. Um deles trás a lógica de que a inovação só ocorre “fora da zona de conforto”.

Esse argumento prega que ao lidar com coisas recorrentes no nosso dia a dia, ou seja, coisas que já estamos acostumados a fazer, perdemos a habilidade de sermos propositivos. Daí surgem aquelas frases do tipo: “ele está tão acostumado com o que faz que não consegue mais pensar fora da caixa.”

Mas afinal de contas, é preciso estar em situações desconfortáveis para que seja possível propor coisas novas?

Na semana passada acompanhei um treinamento da equipe e o instrutor Marcos Lamb fez uma observação interessante. Ao invés de pensarmos em formas de “sair da zona de conforto”, por que não encontramos uma maneira de “aumentar nossa zona de conforto”?

E essa forma de pensar me parece bem mais apropriada. É claro que os constantes desafios que teremos no nosso trabalho nos colocarão em situações desconfortáveis e temos que ter a habilidade para saber navegá-las, mas ter uma atitude proativa pode ser uma forma de tornar essas situações cada vez mais escassas.

Explico. A inovação, ou simplesmente pensar em novas soluções para os nossos desafios, requer a habilidade de fazer boas associações. Ou seja, avaliar determinada situação a partir de um ponto de vista diferente pode sugerir uma solução fora do comum e mais adequada.

É o conceito de “combinatividade” que o Murilo Gun normalmente traz, enfatizando que devemos ser capazes de combinar nossos conhecimentos para sermos mais criativos.

No entanto, isso só é possível quando temos uma “caixa de ferramentas” com opções suficientes. É por essa razão que deveríamos buscar e ler sobre assuntos que não estão completamente relacionados com o nosso dia a dia.

A verdadeira inovação não vem do desconforto em si, mas da nossa capacidade de transformar o desconhecido em familiar, o complexo em compreensível, e o novo em parte integrante do nosso dia a dia.

Em outras palavras, quando fazemos isso somos capazes de aumentar a nossa zona de conforto.

Ou seja, se algo era complexo e nos deixava incomodado, agora faz parte do nosso dia a dia. Podemos ampliar os limites do que consideramos familiar e seguro para pensar de forma mais tranquila sobre qual é a melhor alternativa para superá-lo.

É claro que em situações de crise precisamos ter habilidades para controlar a ansiedade e pensar com clareza para controlar o incêndio, mas a maioria das inovações que acontecem nas organizações não nascem da noite para o dia. Elas são incubadas, amadurecem com os insights e diferentes visões às quais são expostas.

Se a matéria prima que está sendo utilizada é fraca e com pouco contexto, provavelmente não vai vingar. Mas se a solução foi pensada além dos muros da obviedade, há grandes chances de dar certo.

Para fechar o raciocínio 🙂

Ao invés de enxergar a zona de conforto como um lugar estático que devemos constantemente abandonar, podemos reinterpretá-la como algo em constante expansão.

Nossa capacidade de inovar e resolver problemas complexos não depende apenas de estar em situações desconfortáveis, mas de enriquecer nosso repertório e, com isso, tornar cada vez mais áreas do desconhecido parte do conhecido.

Ao nos tornarmos curiosos, ao buscar aprender sobre temas variados, ao valorizar o aprendizado contínuo, estamos expandindo os limites da nossa zona de conforto.

Assim, a inovação deixa de ser um processo que exige um salto no escuro e se torna uma extensão natural do que já conhecemos. Com isso, não apenas ampliamos nossas capacidades, mas também construímos um ambiente onde a criatividade e a inovação florescem de forma mais orgânica e sustentável.

É essa expansão contínua da nossa zona de conforto que nos torna, afinal, mais preparados para enfrentar os desafios de um mundo em constante mudança.

Rafael Zanatta – Head do Vibee Unimed