Desafios e oportunidades para startups da área da saúde

16/09/2022

O cenário para as startups da área da saúde no Brasil – uma conversa com Cristiano Russo presidente da Associação Brasileira de Startups de Saúde – ABSS 

DESAFIOS 

Segundo Cristiano, o grande desafio das healthtechs é a sensibilidade do mercado de saúde. “No passado recente o cenário era refratário ao modelo de negócio startup, principalmente aqui no Brasil. Esta condição tem mudado e hoje já é possível visualizar um futuro breve onde as startups criam relevância e se integram a cadeia de valor na saúde. 

O Brasil não estava sensível para esta invasão de novas propositivas no mercado de saúde. 

A saúde historicamente é muito regulada e faz um sentido em ser, porque estamos falando de vidas humanas na ponta, então você precisa ter um cuidado a mais. Diferente de uma fintech, que trabalha essencialmente com dados, então a forma de tratar é diferente.  

A outra questão é a multidisciplinaridade dentro da saúde, são muitos profissionais de diferentes áreas, formações diferentes, atuando no mesmo segmento.

Então você ter toda esta turma entendendo o que é uma healthtech, uma startup, uma solução tecnológica para o segmento, precisa de um tempo. E tempo a gente não adianta, tempo a gente vive.

Em um evento com pessoas especialistas em startps eu perguntei “qual é o mercado, mais duro, mais árido para entrada da startup?” De cara: saúde. Justamente por isso, temos hospital, clínica, laboratório, fornecedores, logística, rh, processos, é um universo fragmentado. O pessoal que começou lá atrás foi desbravador, pioneiro, tanto que são os exemplos de sucesso hoje, são empreendedores que estão com negócios fora do Brasil, em outra escala e alguns candidatos a se transformar em unicórnio. O Brasil tem 21 unicórnios hoje e nenhum na área da saúde”.

O CENÁRIO 

“Porém hoje a gente tem um cenário mais favorável para as healthtechs, e elas vem aparecendo. E o curioso é que nem sempre a solução surge de alguém da área da saúde. Isso porque todo mundo de alguma forma em algum momento é usuário da saúde.  

Então eu senti um problema ou enxerguei uma dificuldade que ninguém enxergou eu sou administrador, advogado, engenheiro, mas tenho espírito empreendedor, fui lá, me juntei com alguém da saúde e assim nasce uma startup de saúde.” Cristiano 

“São os perfis multidisciplinares: profissionais não necessariamente da área da saúde, mas que ao perceber uma dor, se relacionam e trazem um time para ajudar nesta parte da saúde, porque ainda tem esta questão. Quando vai apresentar a startup, a primeira pergunta que se faz é quem é o cara da área médica, da área da saúde, que representa a startup, porque a gente lida com vidas humanas, então acaba que tem que ter alguém, pelo menos na mente de quem contrata, tem que ter alguém que tá se responsabilizando e tá olhando pelo viés da saúde” Zanatta  

O PAPEL DA ABSS

Cristiano explica que a ABSS nasce com a visão do pessoal que começou a mexer com tecnologia para saúde, das primeiras startups de saúde, de ter mais representatividade dentro do sistema de inovação. Já existia a associação brasileira de startups, mas o que a gente via eram outras áreas nascendo e a saúde à deriva. E como o setor precisava de uma evangelização e ainda precisa disso, estes empreendedores viram que eles poderiam fazer algo mais. E aí se juntaram e fizeram a ABSS, focada neste segmento que é um braço poderoso da economia brasileira. Saúde em alguns lugares é mais de 15% do PIB de negócios de municípios ou estados. É poderoso e precisava dialogar, como eles começaram a desbravar, colocaram a ABSS lá.  

O papel foi primeiro tentar juntar e identificar quem eram as startups que estavam por aí, qual os problemas que elas estavam enfrentando e propor soluções. Isso evolui de lá pra cá, na última gestão a ABSS ganhou notoriedade, conseguiu se fazer presente nos grandes eventos, nos palcos, nos painéis, com convidados falando de saúde. Você não tinha trilhas de saúde em muitos dos eventos de tecnologia. Não faz sentido hoje não ter Trilhas de saúde em evento de tecnologia, porque a saúde consome tecnologia e a tecnologia empodera a saúde, então precisa estar. 

“Contribuímos com o marco legal das startups, e depois com a lei da telemedicina, que está no Senado, e a ABSS foi convidada, teve momento de fala, oportunidade de sugerir coisas, e ter esta representatividade é um grande avanço. E ser visto como o grupo que pode falar por este segmento. Quem circula nestes meios entende que precisa ter quem possa “falar por”, e agora o trabalho da ABSS é este, que ela seja vista pelas healthtechs como esta entidade que faz isso pelo ecossistema”.   

OPORTUNIDADES 

“O cenário está melhorando. A saúde ainda tem este desafio da evangelização da história. Eu li uma matéria que dizia que as empresas brasileiras não tem maturidade para fazer inovação, para o open innovation. Então temos o setor público que é muito regulado e o privado que não tem maturidade, ou seja, o desafio ainda é grande.  

Mas eu acredito que a criatividade e o poder de solução do empreendedor brasileiro vão superar tudo isso, então eu sou muito otimista. É um oceano de oportunidades. A gente precisa não somente olhar para o mantra “fora da caixa, mas olhar também dentro da caixa, o que eu quero dizer com isso? Se eu entendo como funciona o sistema do começo ao fim eu consigo propor soluções eficientes que podem ser escaláveis e repetíveis dentro do conceito de startups.  

  • A gente precisa dar o tempo que está chegando, logo teremos o nosso unicórnio, ou mais.  
  • A tele-medicina, a tele-farmácia tele-enfermagem estão reguladas, se acomodaram e agora a gente sabe como usar isso; 
  • A saúde precisa ser financiada, então soluções de finhealthtechs começam a ser olhadas. 
  • A jornada do paciente, o colaborador (médico, enfermeiro, quem trabalha no hospital) 
  • A dinâmica de processo, a melhoria de processos  

Tudo isso são grandes oportunidades.  

A saúde ainda é um ticket alto, tem muita coisa envolvida. Mas veja, a gente já teve a primeira cirurgia simulada do mundo no Metaverso e foi feita no Brasil. A gente não está esperando, as coisas estão acontecendo. E elas estão acontecendo em uma velocidade maior, porque quem faz não espera.” Cristiano

RECADO  

“O recado é ser otimista, a gente ainda tem um período difícil, duro, de economia, brasileira e mundial para superar, não está fácil, e não é para startup, é no mercado. A gente precisa ter consciência disso, trabalhar com austeridade, procurar ajuda, os hubs como o Vibee e outros são lugares que a gente precisa estar. 

E associem-se à ABSS, a gente tem hoje mais de 300 startups associadas e quanto mais startups estiverem lá, é melhor para nós negociarmos benefícios. Estamos preparando várias novidades para as startups, parcerias com fundos e com hubs e entradas em grandes eventos, dar palco para a startup mostrar a sua solução. E hoje não custa nada, associem-se e acreditem no setor da saúde” Cristiano 

“O setor é fragmentado e esta conexão das várias pontas passa pelas startups, pois elas têm a capacidade de dar um passo pra traz, olhar o todo questionar o status quo que estão construídos há décadas e isso faz parte de um processo de construção de uma nova cultura dentro do ecossistema de saúde.” Zanatta 

Categoria: VIBEE UNIMED

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